quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Mosaicos


Verborragicamente monossilábico.
Pequenas porções demagógicas e aleatórias me sucumbem ao fracasso e de fato não tenho medo. 
Observo pessoas, leio textos, ouço músicas e automaticamente vou criando meu mosaico de nada.
O que ainda não está finalizado é o que me comove. O que está sendo constituído é um luxo que só os pobres e mesquinhos não percebem.
São peças, trabalhos, sorrisos, estúpidos atos e batidas do órgão CORAÇÃO que move os detalhes da construção humana cotidiana do universo.
Mosaicos de gente, mosaicos de poesia, de lixo auditivo, de besteiras concretas iludem os belos e efêmeros mortais.
E de lance não sei sobre o que ao certo estou falando, mas continuo dizendo, pois minhas palavras são singulares perante o plural que é nascer.
E por isso mesmo a cada segundo de vida respirada nasço novamente a mercê do que me destrói, do que me banaliza em igualdade e me comete.
Perfeito mesmo foi os instantes que esqueci.
Meu mosaico está incompleto e destruído pra sempre.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Esconderijo


E eu me deixo em algum lugar, algum lugar secreto onde não me ache.
E que descubram tudo o que os meus sentidos permitem.
Eu não sei onde estão meus cigarros, minhas chaves, minha imortalidade perante o universo que é agora.
E então fujo pro esconderijo ilusório que criei pra mim.
Lá sinto tudo que quero: ouço as palavras de “Caetano”, fotografo paisagens surrealistas, leio as poesias de “Sophia”, desenho esquadros, lá fico grande e os instantes são apenas meus.
Eu transmuto-me em personagens que nem eu mesmo conhecia e permaneço sendo a mesma pessoa, meu secreto adormece.
E quando tento fechar a porta desse lugar que eu crie não consigo ouvir o barulho da porta batendo, não consigo juntar os pedaços das pessoas que fui, alguma força oculta me quer, mesmo triste ali e só por isso não vou embora.
Meu esconderijo é minha alma

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ao acaso



Ao acaso e suas surpresas que hoje permaneço vivo. 
O acaso que completa o cotidiano, expulsa o tédio e apresenta o sorriso envergonhado ao meu rosto. E a rotina se transforma em vida. 
Quero agradecer ao acaso que dia após dia me abre os olhos, é ele que faz meus órgãos funcionarem, meu maxilar contrair, minha boca salivar, é ele quem me dá doses de frios na barriga. Esses acasos, essas pessoas inesperadas que deixam minha simplória rotina mais rica e feliz. 
Meus acasos surpreendentes que se materializam em meu tesão por viver sagaz e ávido. 
Ao acaso sexo, as poesias que por acaso me emocionam, as sabedorias ganhadas ao acaso que completam o vazio do cotidiano cheio de cólera. 
O céu que por acaso hoje nasceu brilhante, a chuva que ontem ao acaso molhou minha cama e me deixou com frio. 
São todos meus esses acasos, esses sorrateiros acasos bandidos que me roubam o clichê que é viver. Está ilusoriamente sob meu domínio essa eventualidade, essa surpresa violenta que escorre pelo meu dia em curtos delírios de medo. 
Minha loucura acidentalmente é o que de melhor tenho e posso oferecer em bem doado aos que fazem parte do meu acaso.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Texto para a morte


A morte e com ela toda a saudade materializada na pessoa que a gente amou infinito me assombra.  Que saudade da época em que eu não sabia o que era morte e por isso ninguém morria.
Que viagem misteriosa é essa que tanta gente querida anda fazendo ultimamente?
Em que espaço, vida as pessoas que nos deixaram estão?
Quais são os dogmas, religiões, doutrinas que podem me explicar o que é a morte?
A morte me deixa com tanta dúvida e tanta curiosidade que eu quase não dou conta.  Fecho os olhos ao ver quem eu amo grande chorando. Me dissolvo ao ficar frente a frente com a morte, eu sou nada perto dela.
Morte é começar o ciclo, morte é fechar os olhos, morte é não ver mais.
Uma pausa, meu pensamento solto, me vem à conclusão:
Morte é a entrada, é o começo, é a porta aberta. Vida que é a saída é a despedida. É a vida que está de porta trancada, quem vai embora é por que encontrou a chave.

Adeus I...  algum Deus está te dando boas vindas em algum lugar.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Criatividade corrosiva



A criatividade corrosiva dos meus atos que tem me deixado vivo e sagaz.
São meus verbos e predicados mais errados que me fazem descobrir novas palavras. 
É da minha crueldade que conheço o ser humano vivo em mim.
São meus pecados que conduzem ao acerto e as verdades.
Os elogios dissimulados dos que só me querem agora, me mostram fugas.
E eu volto por caminhos sem placas e sem mapas em busca do algo perdido.
E são essas buscas que me expõe ao novo.
Eu passo por tudo quando fecho os olhos pro que me assusta.
Eu amo os medos, os defeitos, os maus feitos, as cicatrizes, o que está aberto em chamas e se arriscando.
Meus atos são criativos, corrosivos e imperfeitos.
Eu a cada dia me torno mais criativo, corrosivo e imperfeito.
Minhas imperfeições são a linha tênue entre eu os demais.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Projeto



E eu sinto todos os medos na pele e eu morro de frio. Congelo-me, me queimo, me transformo. Invado-me. Torturo os pobres, amordaço bocas, beijo olhos. Olho pensamentos. Sinto o desejo e o tempo correndo como se fossem rivais e amigos e irmãos. E só eu me paro, acalmo a alma eu sou a razão de minha própria sobrevivência. Eu me trabalho como se fosse um projeto, uma maquete de nada, construção de ser humano. Sou o humano. Eu fui hoje e ainda quero tudo que esse segundo pode me dar. Nada me é em vão. Receio do viver acordado. Fechar os olhos e ter receio. O mundo continua a rodar e me manipular. Crianças continuam nascendo, pessoas permanecem sem esperanças. Evoluímos, descobrimos coisas, a ciência em progresso. Alguns felizes outros não. E eu aqui parado no meio do planeta no meio da rua no meio do mundo no meio do meu quarto no meio do meu corpo com o coração aberto e em prantos e com um leve sorriso irônico na cara, batendo palmas pro belo espetáculo que é minha vida.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Texto para a solteirice

Que me venha à solteirice e com ela todos os amores, desafetos, desapegos emoldurados com a liberdade de receber sem doar.  Que a solteirice me beba como se eu fosse um whisky quente e sem gelo, que desce rasgando alma abaixo.  A arte da solteirice me expulsa pro mundo. E eu passo por todos os amores e sexos e gozos que a liberdade de poder ter tudo me presenteia.  Quero amor de tudo que não me pode ter em mãos, pois sou livre e solteiro pra tudo que não me comove.  E involuntariamente vou percorrer por todos os caminhos que meu livre-arbítrio quer. Minha solteirice oscila entre a carência e a solidão, ser sozinho é um luxo! E não quero saber nem hoje nem amanhã de sentimentalidade barata nem cartões com declarações de amor de quem me ama só agora. E não assino qualquer contrato de monogamia que não posso cumprir, que fique avisado.Ser solteiro é todo dia ter uma historia nova. Venha-me solteirice, e com você tudo o que ainda não conheço. Que venham os secretos, os escondidos os sujos de cara limpa. Solteiro não trai, não liga no dia seguinte, não discute relação e nem é convidado pra festas de família. Solteiros fazem parte sem perceber de um comercio criado só para eles: livros de auto-ajuda para solteiros, bares para solteiros e mais um monte de besteira englobada e destinada aos estereótipos de solidão.  E nós totalmente idiotas e ludibriados por isso adquirimos tudo na ânsia de querer ser amado por alguém. Pra todo esse comercio de merda quero gritar um NÃO bem alto e dizer que não preciso de nada disso, ser solteiro ultimamente tem me trazido algumas glórias, e não quero abrir mão disso. Meu coração está novo em folha pro futuro, pras musicas que ainda não ouvi, pros filmes que ainda não assisti e quero assistir SOZINHO, as viagens que ainda não fiz, as poesias que não conheço e que ainda vão me emocionar. Vou presentear minha solteirice com isso tudo.  Hoje, amanhã, depois de amanhã e provavelmente depois de depois de amanhã vou chegar em casa solteiro, deitar na minha cama de solteiro, ler o ultimo capitulo de um livro, fumar vários cigarros e adormecer acalentado pelo prazer de ser solteiro, pelo despudor e desapego que a minha solteirice me proporciona.

domingo, 7 de agosto de 2011

O verbo

O que me importa? Em que me baseio? Morro. Nasço. Sou o muito do fim. Grande. Sou mil contradições, sou uma contradição apenas. Que contradição é meu ser. Sou pequeno. Fiz-me um pouco virei muito, voltei ao pouco. Nada de novo. Altero-me, abro os olhos, bebo a vodca, respiro o ar preto, vejo a luz azul, observo as faces, passo por fases. Que luxo, virei um sorriso. Que alegre estou e nem sei por quê. Simplesmente estou. Lindo. Que volúpia é meu sentimento. Pornográfico (Puto). Cheguei com a vontade, fui embora. Voltei pra dentro de mim. Não sou domesticado. Não sou mais sorriso agora sou frieza, sou cara feia. Ódio. Odeio sentir ódio. Amo sentir. Meu corpo está dentro do caixão. Choram por mim. Flores, lágrimas, eu estou morto. Meu corpo morreu. Minha alma ficou órfã. Meu coração, coitado. Nasci. Saio de dentro do útero, da placenta, do sexo, da barriga, do ventre de um ser. Eu sou o ser de um ser, devo achar isso magnífico ou não? Sim, eu não sei. Estou no mundo. Morri pra nascer, nasci pra morrer de novo. Não entendo. Nasci no crepúsculo. Morri no quarto escuro. Não. Minha alma é não. Chega. Volto a viver. Prefiro viver. É perfeito o sentir. Aperto minhas mãos. Estou quente. Cadê meu sexto sentido? Basta. Eu me basto e não me entendo.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Mudo?

Estou no meio do meu quarto que é o meu mundo, com um cigarro na mão e a outra com um livro. “Pure Morning” toca baixinho no som, e eu olho pros meus amigos presos no meu mural e penso em tudo que tenho doado em troca de tudo, em troca de nada, em troca de quase. Bebo o café que já está frio, mando uma mensagem pelo celular, leio meus e-mails de semana passada e me dou conta que o mundo, o tempo, meu tempo tem escorrido pelas minhas mãos e eu não tenho força pra segura-lo nem pará-lo, prefiro continuar com o cigarro aceso. Acabei de ler a frase “existe tristeza na felicidade” e fico chocado como a verdade é sádica. Estou emotivamente mais vulnerável ao cruel que existe em mim. Sem ver choro lágrimas invisíveis que não conseguem sair de meus olhos. Estou mudo. Neste momento estou mudo pro que não me faz feliz. Ou seja, estou mudo pra sempre. Pausa, uma tragada, um gole de café.... estou mudo pra sempre???

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ausente

Voltei pra noite imunda voltei pro meu corpo. Tinha desaparecido de mim. fui me buscar no infinito, fui me encontrar, fui ser forte me tornei fraco. Foi ser louco, insano. Fiquei nú. Despi-me de conceitos e valores. Vivi até a morte, e depois dela também. Vivo pra morte, sonho com o encontro dela com minha alma. Não há vida sem morte. Não há sonho que não posso ser realizado. Nada é impossível. Minha vida é só o começo da minha morte. Espero-me e me encontro. Abro olhos, ainda estou vivo, ainda nessa procura lastimável. Choro até querer viver de novo. Fui morrer em outro corpo, o meu não era forte o bastante. Fiz-me fraco. Errei duas vezes. Não volto. Fico estagnado no mesmo lugar. Espero-te novamente. A dor é grande a vontade de se ver livre de meu corpo também. Pífio e vulgar. As lágrimas de minha alma são depravadas. Sujo. Voltei pro meu nada. Voltei a ser humano. Voltei a ser quem nunca fui. Voltei pra minha ignorância.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O secreto

Procurei-me nos estragos em mim. Encontrei-me na majestade de minha alma e me perdi novamente. Fui esquecido nas memórias de meus inimigos, me escondi no sexo de meus amantes. E não paro de me buscar. Aventurei-me nas historias de meus livros preferidos, fui ao encontro do pecado mortal. Vi-me nos poros de meu rosto e me ceguei com tanta dúvida. Eu não estou lá, não estou onde me julgava estar, não fui o que me prometi e ainda sim surge um sorriso de minha face envergonhada. Eu quero ser o que está no espelho de meu quarto, eu quero abrir as portas de meus medos, eu quero mostrar o que me foi dado e só quero me perder novamente quando eu quiser. Quero ter o direito de chorar, de gritar de dor e de ouvir minhas musicas excêntricas. Não, eu não me decifrei ainda. Não sinto o peso do meu cadáver, nem a exclamação de meu silêncio. A muito de mim a ser descoberto e só o tempo será capaz de me contar as verdades de mim e me proteger do que me abisma.”

sábado, 30 de julho de 2011

Mudar, sentir, tocar

Mudar-me para me sentir, me conhecer só para poder me tocar, me tocar até parar de sentir-me. Eternas contradições jamais entendidas, desconhecidas por mim, pois sou fraco e tudo que a vida me dá pede algo em troca, como pode querer tanto de mim, não vivo da forma que desejas? Tenho-me em mãos como se fosse um objeto ,como se fosse uma arma, uma bomba pronta pra ser despertada e explodida. Já não posso ouvir tudo que dizem, já não posso me carregar como antes. Abandono-me, como um desconhecido, ás traças, ás margens de minha indiferença, que me obrigam a me entender de maneira errada e fria. E assim volto para o meu começo, pro meu infinito depravado e autodestrutivo. Não me aponte porque escrevo apenas sobre mim, você pode achar que é egoísmo, narcisismo ou coisa parecida, mas me descrevo porque na maioria das vezes não me entendo da maneira convencional, então preciso escrever sobre mim, preciso me ler pra poder compreender como posso ser tão estúpido. 

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Me globalizaram e só percebi agora

Que  lugar estou eu no mundo? Que espaço ocupo no meio de tanta coisa, de tanta gente?
Novas tecnologias me engolem e me expelem pro mundo. Cd que já foi vinil virou um pequeno aparelho de MP50 ou sei lá o que. Meus livros preferidos estão saindo em forma de e-book’s. Celulares me cumprimentam na rua. No supermercado encontro poesia enlatada, amor em caixetas, orgasmos em pastilhas tudo etiquetado com um preço com um código de barra. E eu que não quero ficar pra trás compro tudo isso e sem ver faço parte da mídia corporativa do jovem pós-moderno, o jovem filho da geração 90. O jovem que faz parte de 18 redes sociais, tem como melhor amigo seu computador, conhece a cara das pessoas por um monitor 17 polegadas, tela plana. Meu computador me apresenta musicas, textos, poetas, pseudo-intelectuais, pornografias baratas, gírias, piadas, fotos, drogas recreativas, arte surrealista, amigos desconhecidos, futuros namorados, amantes presentes, putas, arte de rua, grafite marginalizado, gordas cantoras, vídeos da moda, tendências de cores. E eu vomito todas essas novidades no meu pequeno espaço perdido de nada. Bem vindos ao mundo da era fudida tecnológica sem sentimentos e sem cara. A revolução acontece dentro do meu quarto. Bem aqui de frente pro meu PC.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O que me escapa

Eu me lembro da chuva, que caia na janela e escorria pela minha cama, deixando-me com frio. Eu me lembro das palavras que eu nunca ouvia, das coisas que eu não conhecia, das pessoas que eu quase nunca via, e me deixavam com saudade. Saudades de tempos atrás, de momentos vividos, de momentos já esquecidos. Saudade das poesias que quase sempre me faziam chorar. Eu gostova de lembrar o que me escapava por entre os dedos e gestos. Ao sentir que chegava perto do fim de meu destino, pensava de novo, naquela chuva, naquelas pessoas, naquelas poesias. Que iam até a minha mente e me diziam lentamente... que meu lugar não era ali.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Então vai ser só o amor.

E começo assim com o nada, com a folha em branco e o pensamento livre. A alma presa em meus sonhos que não tenho força pra realizá-los. É o amor que me expulsa pro mundo, é a poesia de tudo que eu gosto que me emociona e de certo não sei o que estou querendo dizer, mas digo, pois me quero assim: dizendo.  As perguntas me cometem, é a duvida que me confia a vida. Mas em algum momento desta ou de outra vida vai aparecer respostas. Será que preciso morrer pra enfim me conhecer?  Já conheço tanta coisa, tanta gente, tanta musica tanto livro de que mais preciso? Volto ao amor acho que no fundo quero falar disso.  Que amor ainda não me conhece? Ouço a todo o momento que o amor que eu tenho é o errado, mas porque Deus me escolheu pra senti-lo? Talvez não seja o amor certo, mas é o amor que eu dou em entrega junto com minha alma. Esse é o amor que só alguns possuem. Não quero mais ouvi isso. Quero amar  tudo ate não sentir mais amor, então por acaso sentirei o não-amor? Amar é difícil, amor dói, engana, dilacera, corta. Amar muda a gente.  Amar é soberbo. Eu não quero amor de ninguém quero apenas o meu amor. Pelo menos vou ser ludibriado por mim mesmo. Esse vai ser meu próprio desacato. Minha única válvula e escape pro nada que me chama.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sem rédeas

Eu sou exato, sou indomável, sem rédeas, sem tempo, sou simples como uma folha de papel branco. Meu eu é desumano ele me golpeia, me machuca me deixa marcas e me mostra todos os dias que ele é o dono de mim. Esse é o paradoxo de minha alma. Sou livre quando meu eu está esquecido na eternidade. Mas ele volta, ele reaparece das cinzas como fênix. Então volto a ser dele. Não me pertenço mais. Nasci esperando o fim. Só dormi pra ser acordado. Matei-me. Entreguei-me ao irreal. Meu eu é frio e atroz, precisa de mim vivo pra me afligir. Sádico. Não sou exato, não sou indomável, tenho rédeas sim, tenho tempo, não posso ser simples. Eu sou o nada que minha figura dramática quer.

domingo, 12 de junho de 2011

A desordem é essencial


Eu almejava conhecer-me sem ao menos saber meu nome. Eu era como um estranho morando em um lugar compelido por mim mesmo. E fazia frio. Não aquele frio limpo, natural do inverno, mas aquele frio que dói que rasga que corta e adentra nas entranhas e que de tão frio vira suor. Essa sensação me parecia soberba, mas logo me lembrava que não gostava de meios termos. A impressão havia de ser fria ou quente. Imaginava-me extremamente hostil, mas isso de fato não me incomodava tanto como minha maneira de sofrer. Eu sofria como se o sofrimento pela aquela causa fosse à coisa mais importante no mundo. Por isso havia épocas que não tinha vontade de fazer nada, nem de ver ninguém, pra mim seria humilhante compartilhar e mostrar minhas dores, seria como uma estaca no peito, preferia a morte  a mostrar medo, fraqueza. Preferia ser forte, achava mais bonito mostrar força. Quando que na verdade via minha vida como um abismo, não tinha forças pra lutar comigo mesmo. Houve um tempo que meu sofrimento, minha alienação em relação ao mundo era tanta que lia livros compulsivamente eles me davam uma sensação ilusória de que estava vivendo em outro mundo. Rezava a todo o momento-mesmo não acreditando num Deus exato- para que a noite chegasse logo e com ela a madrugada para eu fumar meu ultimo cigarro do dia e ir dormir e não ouvir nenhum barulho mais. Queria dormir pra sempre. Desejava tanto nascer na hora que eu bem quisesse e me entendesse, e me aceitasse. O nascimento é fatal. Eu poderia ser o ponto final. Mas sempre fui a vírgula. Sempre fui a pausa. Estúpida pausa. Eu não cabia no mundo muito menos em meu corpo. Eu era pequeno demais pra grandiosidade e pra rebelião de minha alma. Mas mesmos nesses momentos de tristeza profunda ainda sim conseguia as vezes esquecer que eu existia e me afundar em alguma garrafa, e viajar na inconsciência da loucura, era sublime não morar por pelo menos alguns momentos em mim. Mais logo vinha à realidade, vinha o espelho me obrigando a olhar-me de olhos bem abertos. Por alguns segundos me olhava com tanta agonia, com tanta dúvida, com tanta indiferença que caia em prantos, era melancólico demais não me ter em mãos, não ter o comando do meu eu. No fim de tudo me comparei a algo que nem eu sabia de certo o que era. Tentei acomodar-me, mas era conflitante minha existência. Segui um trajeto doloroso até o conhecimento de mim, continuo seguindo.  Mais que nunca tenho certeza que nasci errado, mas extremamente pronto. Talvez seja esse o motivo de minha desordem: de tão pronto já nasci morto. E todo o espaço que me é dado é pequeno demais para minha vastidão.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Âmago

Há um pouco de mim na minha própria dúvida. Estou me descolando de mim. Meu corpo se sobre sai de minha alma e meus pensamentos estão atrás de outros pensamentos. Meu âmago é minha esperança. Nunca apareço em meus sonhos. Nunca me reconheço. Sinto que estou desaparecendo, estou me desprendendo do meu coração. Sinto que quero não sentir mais nada, ou apenas não sofrer. Quero apenas olhar. Então fico enternecido ao olhar para isso tudo. Mas não choro. Preciso ser forte, pois estou crescendo. Estou formando idéias, estou atuando no meu eterno teatro.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O jovem e o homem


Eu sou um jovem, sou um jovem homem a procura do algo infinito. Sou o homem. Sou a ameaça. Vi-me nos mais remotos pensamentos, me obriguei a viver tudo e comecei tudo outra vez. Repito-me e me ouço. Quero agora e sou apenas um jovem. Sinto-me homem. Enxergo os exageros da alma. Anseio o poder. Me olho e sou o jovem. Sou o jovem perdido no corpo de um homem. Sou velho. Minha idade escorrida torna-se pessoa. Minha idade tem corpo, tem cara, tem sentimentos, tem órgãos só que não a vejo. Escondo-me. Não tiro fotografias, prefiro não saber quem sou. Não tornei o que almejava e já sou homem. Fui jovem hoje a tarde, acordei novo em folho: disposto. Morri velho. Minha alma é minha idade. Estou conflitado não sei falar do tempo. Hoje, ontem, agora , ontem e sempre: sou todos. Saio e volto agora. Tenho relógio no pulso. No relógio tem números e ponteiros. Meu relógio é quadrado. Não sei olhar as horas só sei senti-la não sei vive-la  mas á enxergo todos os dias no espelho, ela está nítida nos poros da minha cara, isso basta. Vinte e quatro horas vivendo a mesma pessoa no mesmo corpo com emoção diferentes isso é tempo, isso é hora. Enxergo-me jovem novamente. Meu tempo foi vivido por mim. Fiz-me velho de novo. Meu corpo e alma trabalham para o tempo. Estou envelhecendo. Minha alma jovem envelhece bem na minha cara,bem na minha frente. O tempo é sincero.

sábado, 4 de junho de 2011

:

Vou beber o último resquício de mim nesse exato momento. Sem escrúpulos e sem misericórdia, sem pudor vou embebedar-me. Desnudamente alterado, estou sendo alcoolizado pelas minhas atitudes que se transformaram em um arraso venenoso. É puro mais é corrosivo. Abrangente são as possibilidades de me matar. Mergulhado em problemas perigosos que eu me coloco, pois não sei viver sem arriscar. Talvez o medo se transforme em caminho mais prefiro ficar de olhos fechados e amar o impossível. Mais rara é a perda do que nunca se teve. Ócio violento que toma conta de minha alma nos instantes que passam devagar.  Acho que sei muito, mas me perco em tentar usar todo meu conhecimento ilusório. Olham-me com piedade, mas esquecem de não me machucar. Algumas de minhas feridas foram cicatrizadas, mas ainda não as esqueci. A tristeza é mais real que a felicidade, por isso ela vem sempre intensificada e densa e suja e limpa. Lágrima por lágrima sai do meu olho marrom e escorre por entre meu corpo e meus sonhos que foram perdidos no espaço. O bom é obvio demais para mim, então me é mostrado o errado. Caminho fácil, proposta tentadora e palpável, pois erro. Encosto sem ver em paredes frias de concreto e então a porta bate, o temor entra, a vida foge e agora enxergo a não-vida. O colorido que nunca existiu fica transparente e já não posso confiar em nada. Todas as lágrimas violentamente seguem o caminho de volta, pra onde jamais deveriam ter saído. Tudo fica calmo novamente pelo menos no instante que delicadamente fecho os olhos pra tudo que não me comove. Num instante criativo imagino como seria algo que ainda não sei o que é, é estranho mais muito excitante pensar no que não existe em minha vida. As dúvidas que eu tinha ainda continuam a me assombrar, percebo: eu sei quase nada. Volto pra algum plano limpo e coeso, pois me querem assim, mesmo eu não o podendo. São tantas as dificuldades que não se tornam fáceis.  Sinto uma dor que chega a ranger a medula guardada em meus ossos. É a dor do dia após dia viver sem saber, mas imaginando o que se pode ocorrer. Linda a paisagem que vejo da janela, mas extremamente perigosa, e mesmo assim saio de casa para o encontro do que me fere, do que me machuca. É a regra da vida, necessidade humana, só vive quem se perde. Eu ainda não sei me perder.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Eu sou o meu próprio paradoxo, eu sou a dúvida da resposta, eu sou a mente a procura do algo. Sou jogado no infinito dos meus sentimentos, sou movido pelos meus órgãos que trabalham em união pela minha sobrevivência. Sou as dores do mundo, sou a falta de ar do planeta, sou a poluição das grandes cidades, sou a besteira da TV, sou os mendigos de rua. Olho-me e me espanto, virei uma aberração de mim. Criei-me na minha dor, me soltei na rua e não voltei. Brinco com o presente e com o futuro das pessoas. Eu me livro dos estereótipos (só na minha cabeça é claro), me recordo apenas dos autores e atores de livros e filmes, nunca das historias. Sou a comédia do drama, o choro de alegria. Sou a frieza do deserto quente. Jorro-me como sangue em cachoeiras imaginarias, sou a pedra que sua cabeça bate e te corta e dói. Eu só não virei à pessoa, só não sou eu. Viro e me reviro em milhares de coisa, sou um monte de coisa, sou o que você quiser, só não tente me decifrar, pois ficará o resto da eternidade tentando me pluralizar e sinto muito, não vai conseguir, eu sou além do que você possa imaginar sentir ou ser. Eu estou no meio de tudo que você pensa, olha e faz.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Que minha solidão me entenda que meu corpo permaneça me agüentando, que minhas mãos continuem ativas e meus olhos a par de tudo. Que eu permaneça voraz e impaciente. Que eu continue rezando sem entender, que eu possa amar muito e sem medo. Que eu acorde sempre mal humorado e mesmo assim acorde. Que minha voz possa ser ouvida e meus ouvidos possam ser tapados para o que não me emociona. Que o perfeito possa ser imperfeito, que o errado seja o novo certo. Que eu possa morrer e conhecer o que me espera que meu futuro seja brilhante e a mercê de meu destino. Que meus dias continuem escarpados e que eu possa fumar meu ultimo cigarro do dia e me deitar para começar tudo de novo. E que o “todo de novo” seja cada vez mais novo e excitante. Amém

quarta-feira, 1 de junho de 2011


Vou seguir a luz azul que me chama pela janela.Vou quebrar regras, atirar palavrões, destruir provas, ultrapassar barreiras. E depois me mato e me perco, me desespero. Nasço de novo. Grito. Eu era ontem, não o sou mais. Hoje resolvi ser a solidão. Quero o só. Busco-me. Estava por ai, mas já voltei não consigo ficar longe do que me constrói dia após dia. Assisto da primeira fila o filme de minha vida. Como estou diferente do que pensava. Estou amordaçado por pobres seres humanos piores que eu. Saio. Encontro com meus melhores inimigos. Adoro-os e elimino-os. Delicadamente acessível me transformo na melhor e mais feliz pessoa do mundo e logo em seguida acordo do sonho infeliz. Maldito o sonho. Eu não posso, mas vou. Vejo e ando. Sinto e adormeço. Eu quero o que eu queria amanhã. Só terei o que Deus permitir. Li o meu destino e ele estava escrito nas paredes dos meus pesadelos. Bem lá no fundo de minha alma, junto com a imundice estava meu sórdido destino. Jogo-me ao lixo e ao meu destino os misturo e pronto: meu futuro virou detrito. Choro até querer morrer. Mas não morro. Permaneço estranho e voraz. É doloroso saber onde se vai parar e mesmo assim não parar. Necessito urgentemente de uma pausa, de um descanso eterno. Preciso nascer de novo o mais rápido possível ou então vou morrer de desespero e amargura. Não me mostre fotos, prefiro o real. Atitudes valem mais que palavras. Destino é melhor quando já vem pronto. Eu não posso mudar meu destino eu sou isso ai que ele quer. Erro-me em mim mesmo, cicatrizes enormes em minha testa, mostram o ser humano maravilhoso e imperfeito que sou. Que ótimo, agora estou me digerindo com mais elegância e concordância. Fiz-me melhor à custa do pior de mim. Reencarno no meu próprio destino. Existo em dose dupla a partir desse comovente instante. O tempo é sádico e realista. Momento eu sou eu, momento eu sou outro. Estou me venerando e amando sentir tudo em dobro, amo sentir seja lá o que for. Não preciso de nome nem de roteiros. Eu me basto e me paro quando quiser. O pai de minha alma sou eu mesmo e isso é o melhor de nascer. Morrer é submissão.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Não me lembro o que me aconteceu ontem. Pode ser que o ontem não tenha existido. Ou o presente não é agora. Pode ser que eu tenha morrido ou nascido. Vivo. Ando. Penso. Passo por momentos difíceis, choro todos os dias. Derrotas são pra ser vividas, curtidas e descartadas. Chego à conclusão que só sei vive-las e curti-las, não sei me livrar de perdas. Elas permanecem em mim por muito tempo. Perdas são cruéis e eternas, dor é sádica e o passado é sincero. Meu Deus tornou-me dissonante. Fim do meu começo. Começo sem razão. O contrario da razão é o absurdo. Então eu sou absurdo. Eu não preciso de mim certo? Vou perder em outro corpo. Silêncio. Fico em silêncio. O silêncio é a resposta do incerto. Eu sou a perda incerta. O medo é imortal, necessito dele, mas não o quero. Ostento erroneamente a coragem. É falso. Somos fantoches da vida. Nossa vida é um filme mudo e em prato e branco. Filosofei. É um Maximo o não saber.  Minha vida é pálida. Perdi ontem, me lembro. Dormi e acordei perdedor. Adormeci perdedor acordei embriagado de medo e tensão. Não posso ver meu adversário, me tornei acessível a ele. Será que isso é ruim? Posso lutar sem sangrar, mas nunca sem temer. Veja fui tocado pelo medo do outro. Queima a pele. Sangra o coração. A gente não sabe do futuro, mas o aguardamos otimistas. Erramos? Talvez. Possibilidades são confusas. Há um fundamento pra tudo isso que estou escrevendo? Não, pois estou escrevendo aleatoriamente, sem coerência, sem começo nem título, pois sou assim. Existo sem título. Meu nome é fictício. Meu verdadeiro nome é não sei. Minha cara é abstrata. Meu corpo é cândido. Minha voz é muda. Só minha alma me ouve. Minha alma é surda. Chegou o sonho. O sonho que eu tive ontem era pesadelo. Só fui perceber quando eu tinha acordado. Então é isso, sonhei ontem. Estava bom, mas prefiro o não-sonho. Não-sonho é realidade. Devo ter sonhado que havia acordado. Acordar em sonho é um luxo sem consistência. Mudo a página acabei esse capítulo. Não o entendo, mas termino. Agora estou no meio da minha vida, daqui a 40 anos vou estar morto (agora sei que não sou otimista em relação ao meu futuro) e ainda sim meus olhos permanecem abertos. O meio é pra ser descansado em uma cama molhada, me deito. Fui forçado a isso. Dormir de olhos abertos é um exercício que só os nervosos conseguem. Estou me estranhado, sem me dar conta me vesti com vários adjetivos. Será que estou sendo sincero? Pode ser que sim. Sou a pessoa que mais me conheço. Então estou certo e ponto. Que arrogante eu estar certo depois de escrever sem razão alguma. Mas vou me desnudar desses adjetivos. Fiquei nu. Que imoral é meu corpo. Veja não consigo me desvincular desses adjetivos. Então vou continuar com eles. Fim, agora estou no final, o fim é lindo e sublime, o fim chega delicado, manso. Que grande historia. Começo, meio e fim cometem me. Findo e nasço. Agora vou tentar fazer com que minha existência seja precisa e voraz.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O começo.


“Pronto estou eu para o meu próximo cigarro, pro meu próximo choro, ruído e desafeto. Serão apenas os meus pecados e só minhas as poesias, meus escritores, minhas canções e magoas que não procuro e nem pretendo esquecer.  De frente estou eu para todos meus grandes inimigos, meus romances fracassados, meus amores guardados no baú infinito de minha perigosa alma. É minha verdade que me procura, é meu âmago que no momento chora, são meus amigos melhores que eu.  É meu isolamento que me faz ser plural, são os filmes que me iludem. Ficará a certeza de tudo que me atenta, ficara escrito tudo que no momento penso, danificará meu passado o que não liberto. Vai ser a vida que vai me esconder o segredo do simples, serão minhas palavras que saíram de minha boca pra mente do desconhecido. É o ilimitado que ando procurando, é o meio que almejo com muito medo é sem calma. É o tempo  que me traíra. É meu medo que me intimida por isso eu mesmo vou sabotar a conclusão. É meu corpo que ignora minha nudez.  É meu grande amor que não está comigo. Minha covardia é de esquecer tudo que um dia eu amei. Não é do fim que tenho medo, é do começo.