domingo, 12 de junho de 2011

A desordem é essencial


Eu almejava conhecer-me sem ao menos saber meu nome. Eu era como um estranho morando em um lugar compelido por mim mesmo. E fazia frio. Não aquele frio limpo, natural do inverno, mas aquele frio que dói que rasga que corta e adentra nas entranhas e que de tão frio vira suor. Essa sensação me parecia soberba, mas logo me lembrava que não gostava de meios termos. A impressão havia de ser fria ou quente. Imaginava-me extremamente hostil, mas isso de fato não me incomodava tanto como minha maneira de sofrer. Eu sofria como se o sofrimento pela aquela causa fosse à coisa mais importante no mundo. Por isso havia épocas que não tinha vontade de fazer nada, nem de ver ninguém, pra mim seria humilhante compartilhar e mostrar minhas dores, seria como uma estaca no peito, preferia a morte  a mostrar medo, fraqueza. Preferia ser forte, achava mais bonito mostrar força. Quando que na verdade via minha vida como um abismo, não tinha forças pra lutar comigo mesmo. Houve um tempo que meu sofrimento, minha alienação em relação ao mundo era tanta que lia livros compulsivamente eles me davam uma sensação ilusória de que estava vivendo em outro mundo. Rezava a todo o momento-mesmo não acreditando num Deus exato- para que a noite chegasse logo e com ela a madrugada para eu fumar meu ultimo cigarro do dia e ir dormir e não ouvir nenhum barulho mais. Queria dormir pra sempre. Desejava tanto nascer na hora que eu bem quisesse e me entendesse, e me aceitasse. O nascimento é fatal. Eu poderia ser o ponto final. Mas sempre fui a vírgula. Sempre fui a pausa. Estúpida pausa. Eu não cabia no mundo muito menos em meu corpo. Eu era pequeno demais pra grandiosidade e pra rebelião de minha alma. Mas mesmos nesses momentos de tristeza profunda ainda sim conseguia as vezes esquecer que eu existia e me afundar em alguma garrafa, e viajar na inconsciência da loucura, era sublime não morar por pelo menos alguns momentos em mim. Mais logo vinha à realidade, vinha o espelho me obrigando a olhar-me de olhos bem abertos. Por alguns segundos me olhava com tanta agonia, com tanta dúvida, com tanta indiferença que caia em prantos, era melancólico demais não me ter em mãos, não ter o comando do meu eu. No fim de tudo me comparei a algo que nem eu sabia de certo o que era. Tentei acomodar-me, mas era conflitante minha existência. Segui um trajeto doloroso até o conhecimento de mim, continuo seguindo.  Mais que nunca tenho certeza que nasci errado, mas extremamente pronto. Talvez seja esse o motivo de minha desordem: de tão pronto já nasci morto. E todo o espaço que me é dado é pequeno demais para minha vastidão.