sábado, 4 de junho de 2011

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Vou beber o último resquício de mim nesse exato momento. Sem escrúpulos e sem misericórdia, sem pudor vou embebedar-me. Desnudamente alterado, estou sendo alcoolizado pelas minhas atitudes que se transformaram em um arraso venenoso. É puro mais é corrosivo. Abrangente são as possibilidades de me matar. Mergulhado em problemas perigosos que eu me coloco, pois não sei viver sem arriscar. Talvez o medo se transforme em caminho mais prefiro ficar de olhos fechados e amar o impossível. Mais rara é a perda do que nunca se teve. Ócio violento que toma conta de minha alma nos instantes que passam devagar.  Acho que sei muito, mas me perco em tentar usar todo meu conhecimento ilusório. Olham-me com piedade, mas esquecem de não me machucar. Algumas de minhas feridas foram cicatrizadas, mas ainda não as esqueci. A tristeza é mais real que a felicidade, por isso ela vem sempre intensificada e densa e suja e limpa. Lágrima por lágrima sai do meu olho marrom e escorre por entre meu corpo e meus sonhos que foram perdidos no espaço. O bom é obvio demais para mim, então me é mostrado o errado. Caminho fácil, proposta tentadora e palpável, pois erro. Encosto sem ver em paredes frias de concreto e então a porta bate, o temor entra, a vida foge e agora enxergo a não-vida. O colorido que nunca existiu fica transparente e já não posso confiar em nada. Todas as lágrimas violentamente seguem o caminho de volta, pra onde jamais deveriam ter saído. Tudo fica calmo novamente pelo menos no instante que delicadamente fecho os olhos pra tudo que não me comove. Num instante criativo imagino como seria algo que ainda não sei o que é, é estranho mais muito excitante pensar no que não existe em minha vida. As dúvidas que eu tinha ainda continuam a me assombrar, percebo: eu sei quase nada. Volto pra algum plano limpo e coeso, pois me querem assim, mesmo eu não o podendo. São tantas as dificuldades que não se tornam fáceis.  Sinto uma dor que chega a ranger a medula guardada em meus ossos. É a dor do dia após dia viver sem saber, mas imaginando o que se pode ocorrer. Linda a paisagem que vejo da janela, mas extremamente perigosa, e mesmo assim saio de casa para o encontro do que me fere, do que me machuca. É a regra da vida, necessidade humana, só vive quem se perde. Eu ainda não sei me perder.