quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Esconderijo


E eu me deixo em algum lugar, algum lugar secreto onde não me ache.
E que descubram tudo o que os meus sentidos permitem.
Eu não sei onde estão meus cigarros, minhas chaves, minha imortalidade perante o universo que é agora.
E então fujo pro esconderijo ilusório que criei pra mim.
Lá sinto tudo que quero: ouço as palavras de “Caetano”, fotografo paisagens surrealistas, leio as poesias de “Sophia”, desenho esquadros, lá fico grande e os instantes são apenas meus.
Eu transmuto-me em personagens que nem eu mesmo conhecia e permaneço sendo a mesma pessoa, meu secreto adormece.
E quando tento fechar a porta desse lugar que eu crie não consigo ouvir o barulho da porta batendo, não consigo juntar os pedaços das pessoas que fui, alguma força oculta me quer, mesmo triste ali e só por isso não vou embora.
Meu esconderijo é minha alma

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ao acaso



Ao acaso e suas surpresas que hoje permaneço vivo. 
O acaso que completa o cotidiano, expulsa o tédio e apresenta o sorriso envergonhado ao meu rosto. E a rotina se transforma em vida. 
Quero agradecer ao acaso que dia após dia me abre os olhos, é ele que faz meus órgãos funcionarem, meu maxilar contrair, minha boca salivar, é ele quem me dá doses de frios na barriga. Esses acasos, essas pessoas inesperadas que deixam minha simplória rotina mais rica e feliz. 
Meus acasos surpreendentes que se materializam em meu tesão por viver sagaz e ávido. 
Ao acaso sexo, as poesias que por acaso me emocionam, as sabedorias ganhadas ao acaso que completam o vazio do cotidiano cheio de cólera. 
O céu que por acaso hoje nasceu brilhante, a chuva que ontem ao acaso molhou minha cama e me deixou com frio. 
São todos meus esses acasos, esses sorrateiros acasos bandidos que me roubam o clichê que é viver. Está ilusoriamente sob meu domínio essa eventualidade, essa surpresa violenta que escorre pelo meu dia em curtos delírios de medo. 
Minha loucura acidentalmente é o que de melhor tenho e posso oferecer em bem doado aos que fazem parte do meu acaso.